terça-feira, 26 de junho de 2007

O MAPARÁ É ABAETETUBENSE


Diz a Lenda do mapará, que um morubixaba estava preocupado com sua tribo, localizada às margens do Rio Meruú ou Maratauíra, onde hoje está a cidade de Abaetetuba, porque estavam vivendo em grande seca e havia pouca ou quase nenhuma comida. Logo após, sua filha mais velha e a mais bela de todas, que todos os guerreiros desejavam "comer", caiu doente na rede com estranha doença. O Pajé foi chamado e depois da pajelança avisou que não tinha cura, pois Tupã a tinha chamado. O Morubixaba abaetetubense, nada besta, pediu então que Tupã recompensasse sua tribo com uma comida tão boa de comer como sua filha. Aí Tupã disse que eles fossem pescar no Rio Maracapucú, que naquelas épocas não tinha nada de peixe. Passaram várias vezes a rede e nada pegaram. Reclamaram novamente para Tupã e este falou que eles haviam pedido uma comida tão gostosa como a filha do Morubixaba e ele havia concedido, mas que essa comida era igual mulher bonita e gostosa, tinha que ter manha para ser conquistada. Daí surgiu a técnica do Borqueio. Quando os índios fizeram o Borqueio no Rio maracapucú conseguiram imensa fartura do peixe mais gostoso que já haviam conhecido. Era o Mapará. O Morubixaba deu de comer para toda sua tribo, que convidou outras tribos, localizadas onde hoje ficam as cidades de Cametá e Igarapé-Miri para aprenderem a fazer borqueio e degustarem o delicioso Mapará.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

CANTO ANGUSTIADO AOS PLANTADORES DE CANA


CANTO ANGUSTIADO AOS PLANTADORES DE CANA

Plantador de cana verde
das terras de Abaetetuba,
por que só tu quem trabalha,
por que teu filho não estuda ?
Plantador de cana verde
das terras de Abaetetuba ?

Teus braços plantam doçuras
colhem braçadas de dor,
O sol que te cresta a pele
doura a praia do Senhor.
Teus braços plantam doçuras
colhem braçadas de dor.

Tuas mãos acendem esperanças
de um certo verde esplendor.
É um verde mar que propagas,
um doce mar, Plantador.
Tuas mãos acendem doçuras
de um certo verde esplendor.

Não vês, porém, que esta cana
é cano cruel que aponta
o lucro de teu patrão
para teu lar que não janta ?
Não vês, porém, que esta cana
é cano cruel que aponta ?

Acaso foste a uma escola
que teu patrão te mandasse ?
Acaso teu filho estuda
na escola que não estudaste ?
Acaso foste a uma escola
que teu patrão te mandasse ?

Teu filho acaso não nasce
como nasce o do patrão ?
Por que só o dele é doutor
e o teu não tem instrução ?
Teu filho acaso não nasce
como nasce o do patrão?

Não há ninguém que nascesse
para aprender, outros não ...
Teu filho merece escola
como o filho do patrão.
Não há ninguém que nascesse
para aprender, outros não ...

Trabalhas luas e sóis
vai teu patrão ao Senado
votar as leis que te fazem
viver mais escravizado !
Trabalhas luas e sóis
vai teu patrão ao Senado.

Quantos filhos já tiveste ?
Quantos deles já morreram ?
Uma cruz de cana verde
foi o quanto que tiveram.
Quantos filhos já tiveste ?
Quantos deles já morreram ?

Quantos filhos na moenda
perderam o braço e a infância
que plantar cana e moê-la
é seu brinquedo e folgança?
Quantos filhos na moenda
perderam o braço e a infância ?

Deu-lhe o patrão outro braço?
Deu-lhe o patrão outra infância ?
Em vez de matar no pólen
a sua flor de esperança ?
Deu-lhe o patrão outro braço ?
Deu-lhe o patrão outra infância ?

Não deu porque de teu filho
só quer a mão que trabalha.
A mente que pensa e cria
envolve em metal mortalha..
Não deu porque de teu filho
só quer a mão que trabalha.

Só quer que a sua cartilha
seja a da cana cortada.
Mas esta cana arrebenta
os sulcos de tua alvorada.
Só quer que a sua cartilha
seja a da cana cortada.

Que verde alvorada verde
há-de brotar de tua mão,
plantador de cana verde
ao som da voz: hoje não !
Que verde alvorada verde
há-de brotar de tua mão.

Teus braços farão rolar
os canaviais da injustiça,
pondo final nesta infâmia,
pondo final nesta liça.
Teus braços farão rolar
os canaviais da injustiça.

Então vais viver decente
da cana que tu plantaste.
Então vais comer o açúcar
da cana que tu plantaste.
Então vais vestir a roupa
da cana que tu plantaste.

Então vais tomar remédio
da cana que tu plantaste.
Então vais jantar a carne
da cana que tu plantaste.
Então educar teu filho
da cana que tu plantaste.
Então vais plantar tua casa
da cana que tu plantaste.
Então vais morrer como homem
da cana que tu plantaste.

Plantador da cana verde
das terras de Abaetetuba,
a liberdade é mais doce
que a cana nova e polpuda !
Plantador de cana verde

das terras de Abaetetuba.


1962
João de Jesus Paes Loureiro