quinta-feira, 21 de novembro de 2013

TRIPA DE ACARI

TRIPA DE ACARI Quando íamos pescar na Ponte Grande (assim denominávamos o Trapiche), seguíamos um ritual: arranjar a linha de pesca, o s anzóis e a chumbada que era comprada em tiras e amassadas. Depois arrumar a isca, que dava um trabalho danado: ou roubávamos um pedaço de charque no Tio Raimundo Figueiredo ou pegávamos emprestado uns camarões na Beira. Às vezes conseguíamos alguma minhoca lá Muinha, mas era difícil. Daí, era ficar na “cabeça da ponte” e lançar a linhada na esperança de algum mandiÍ ou mandubé se interessar pelos petiscos, quando não vinha candiru, baiacu ou bacu pra atazanar nossa diversão. Mas tinha dois problemas gravíssimos. O primeiro era esquivar a linha da quantidade de canoas, montarias, bajaras, batelões e barcos que aportavam ou simplesmente passavam pelo local. O segundo problema era o mais difícil. Era quando puxávamos a linha e ela ia se amontoando, e nesse amontoar ela se enrolava toda formando um nó górdio de impossível solução. Nesses momentos, não tinha santo pra quem recorrer....a única alternativa era lançar mão de um mantra proveniente de nossos ancestrais via tradição oral. Então, como monges tibetanos, púnhamos a concentração naquele emaranhado de fios de nylon, recitando como uma prece infinita: -“tripa de acari...tripa de acari... tripa de acari...tripa de acari... tripa de acari...tripa de acari